sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Parâmetros curriculares nacionais no ensino de língua portuguesa

Durante muito tempo vem se discutindo sobre o verdadeiro papel do ensino de Língua Portuguesa no âmbito das práticas curriculares nacionais. A avaliação, em nível de compreensão e estruturação da língua, na educação básica, revelou resultados não tão promissores. Em face desses resultados, é que os PCNs tiveram que ser repensados. Onde estaria a falha do ensino de Língua Portuguesa? Chegou-se à conclusão de que a língua deve ser vista e tratada como um “organismo vivo” e, como tal, deve ser repensada, uma vez que ela muda no espaço e no tempo e isso, evidentemente, pressupõe que ela deva ser trabalhada dentro de um contexto social, político, econômico e cultural. Dentro disso, os PCNs devem levar em consideração a experiência, a cultura, o diálogo, a fala de cada aluno, numa prática de interlocução (fala/escrita) entre professor e aluno. Diante das mudanças significativas pelas quais vem passando o mundo, principalmente decorrentes das novas tecnologias, é mister que se mude o enfoque do ensino, priorizando-se a comunicação. Entende-se que é num processo dialógico, como já definia Geraldi (2004, p.90), que o ensino de língua portuguesa deve se pautar. Refletir sobre a linguagem de diversos textos (gêneros textuais), as “várias vozes” que eles possuem, leva o aluno a adotar uma postura crítica, leva-o ao entendimento de sua prática social e à aplicabilidade dos diversos gêneros textuais para atender a diversos fins na sociedade. Quando um aluno constrói o seu texto, ele deve pensar também no leitor desse texto. Colocar-se na posição do leitor é valorizar o ato da escrita, que pressupõe, também, uma capacidade de leitura crítica do próprio autor do texto. É nesse sentido que entendemos o texto como “interlocução”. Só conseguimos produzir textos significativos, se conseguimos transformar as aulas de língua portuguesa dentro de enfoques significativos. E a significação é dada na busca da identidade do aluno, na prática da descoberta, no processo de reescrita dos textos e também na interação entre os textos em sala de aula. Toda mudança que se tem proposto à prática de ensino aponta para a questão da significação. Estudos revelam que os alunos saem do ensino fundamental, concluem o ensino médio e, ainda assim, apresentam dificuldades em relação às nomenclaturas gramaticais, notadamente em relação à sua aplicabilidade. Por quê? Justamente porque o aluno não consegue estabelecer o significado daquilo que aprende na sua prática social, uma vez que grande parte dos conteúdos trabalhados foram ensinados dentro de enfoque “tecnicista”, dentro de modelos pré-fixados, descontextualizados, limitando, assim, a capacidade de reflexão do aluno. O resultado dessa “atitude mecanicista” é a produção textual que não é produção, e sim redação (na concepção de Guedes (2002)), pois é um texto que revela o que já foi dito, o denominado “chavão”, frases feitas, circunlóquios etc. As redações de vestibular denunciam a falta de reflexão nas aulas de língua portuguesa. Há dois problemas básicos que podemos elucidar: de um lado que as aulas de língua portuguesa não foram trabalhadas num processo dialógico, não priorizaram a capacidade de interação com o aluno; em segundo lugar, que o professor não priorizou a reescrita de textos, pois é nesse processo que o aluno dá significado e ressignifica o seu texto, num ato de leitura reflexiva. Enfim, os PCNs têm apontado para práticas de leitura diferenciadas, pois é a partir da leitura de diversos textos, da forma como são trabalhados, que preparamos o aluno para uma produção textual significativa. Para trabalhar um texto, o professor deve analisá-lo contextualmente, por exemplo: em que época ocorreu o fato? Em qual jornal ou revista foi publicado? Para qual público é direcionado? Quais são as intenções do autor? Diante dessa proposta de releitura ou pré-leitura de um texto, o aluno vai começando a entender que um texto tem pistas. O autor do texto deixa marcas significativas que precisam ser decifradas, são pressupostos,inferências, elos coesivos que ajudam no processo de interpretação, de significação. Trabalhando, assim, o professor prepara o aluno para melhor repensar a sua prática textual. Consequentemente a maneira como o professor avalia reflete na produção do aluno, eleva a sua autoestima e o faz refletir sobre a sua prática de cidadania, tornando-o um sujeito com capacidade de interagir socialmente, pois o domínio da língua e da linguagem é que garantirá a sua inserção na sociedade e o preparará para futuros desafios, dentro de um compromisso ético, que só um ensino que focaliza e prioriza a arte de “ensinar a pensar” é que poderá atingir.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Qual o verdadeiro desafio da escola de hoje?

Será que existe um modelo de escola ideal para os dias de hoje? Certamente essa não é uma pergunta muito fácil de ser respondida, pois, assim como define Morin (1992), vivemos hoje um momento de incertezas, geradas, sobretudo, pelo progresso e pela técnica. Num conflito entre sociedade e escola, porém ambas vistas como essenciais para o desenvolvimento humano. Pensar na sociedade de hoje, é pensar antes e sobretudo no berço que a conduz: a família. Falar de família é também falar de valores e limites. E o grande desafio da escola de hoje é: ensinar e educar. O professor, dessa forma, deve ser um mestre-educador. Alguém que ultrapassa as fronteiras do saber, que consegue criar, dentro da sala de aula, um espaço de convívio familiar. Não digo que ele fará o papel de pai e mãe, mas precisará usar o diálogo, para que possa ensinar e adaptar os conteúdos à experiência de vida dos educandos.

É no resgate da experiência que damos o verdadeiro sentido à escola. A escola vista como construção, a partir da reconstrução dos nossos próprios princípios e valores, e essa reconstrução pressupõe um respeito às mudanças que se firmam diariamente pelo grande acúmulo de informações, as quais, por sua vez, exigem um novo ritmo de vida. Hoje vivemos num ritmo de pressa, numa corrida interminável, numa ânsia de conquistar em pouco tempo aquilo que nossos pais levaram, muitas vezes, anos para adquirir. Não é difícil entender por que vivemos num estado de desejo permanente. Cada dia mais os comerciais de televisão deparam-nos com novas situações. São novos objetos de consumo que deverão fazer parte de nosso cotidiano, caso contrário corremos um sério risco de ficarmos “fora de moda” ou fora de um grupo social.

Assim, na verdade, a nossa angústia diária é traduzida como um medo de isolamento. Temos medo que nosso ato anti-consumista venha a nos afastar desse convívio “fantástico” que, na verdade, pode ser considerado como o mundo das aparências. O mundo onde a expressividade está acima da verdadeira essência das coisas. Carecemos de autoafirmação e, por isso, valorizamos o consumismo e criamos a ilusão do bem-estar. Porém, findo o objeto da moda, temos que voltar a consumir, afinal não podemos ficar desatualizados, não é mesmo? Mas daí vem o grande desafio de nós educadores, e deixo uma pergunta de reflexão: como ensinar os valores e limites dentro de uma sociedade que progressivamente vem transformando valores em objetos?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Projeto LeiturAção: o outro passo da dança - Escola Olímpio Vianna Albrecht - Prefeitura Municipal de São Leopoldo


O OUTRO PASSO DA DANÇA DE CAIO RITER



O livro trata-se do trio A-Bê-Cê. Grandes e inseparáveis amigos desde a infância, Ana Lúcia, Bernardo e Celina mostram uma realidade que raramente existe hoje em dia. Se existe alguma amizade forte e sadia que aceita os outros sem preconceito, este é o pico da relação entre o trio e deve ser mantido. A vida de Ana Lúcia, uma excelente bailarina, chega ao ponto de quase se findar ao descobrir uma bala em sua coluna. A bala (perdida?)encontrou Ana (será que existem balas perdidas em nosso país?). Foi um assalto. Ela estava saindo ao encontro de sua mãe, Beatriz, a qual era muito apegada, quando o referido acontece. Este fato mudou completamente a sua vida. Acertou a coluna e tirou definitivamente a mobilidade de suas pernas. Como iria à escola, vendo todos a enxergá-la como uma estranha? Como encarar seus amigos e dizer que não foi nada? Como levar uma vida normal? Como uma bailarina dança sem ter como dançar? As pernas são extremamente necessárias neste tipo de atividade!


SERÁ??? ........


Bernardo também é um bailarino. Mas é dentro de casa que nasce seu problema, como aquele ditado que diz "os inimigos são os da tua própria casa"(Miquéias 7:6). Seu pai lhe encara como uma "mulherzinha" - não tolera "macho" dançando balé, algo semelhante à relação entre pai e filho no filme "Sociedade dos poetas mortos". Não existe uma boa relação entre Bernardo e seu pai. Não se falam. É! É sério mesmo!E como se fosse só...Não! Na escola também sofre preconceito. A turma do Moicano - uma turminha da pesada que vive esculachando os outros e banca uma de "machâo" - é uma que contribui muito para o seu fracasso. Murilo também acabou afastando-se de seu melhor amigo, Bernardo. Bastaram algumas acusações de que ele estava para lá e para cá com um bailarino, que ele entrou na conversa e resolveu separar-se de Bê pra não "queimar seu filme". O que iria pensar Maria Eduarda, sua namorada?

Ora, isso eu não esperava de um melhor amigo! Mas foi o que aconteceu. Só que, bem no fundo, ele sentia muita falta de Bê em sua vida. E calava.

Celina não era tão bonita, mas não servia para feia. Vamos dizer assim: não era vaidosa. Só isso! E o que há de mal em não se preocupar tanto com a estética? Sua mãe achava o fim do mundo! Daquelas que têm a pele branca, cabelo liso, olhos claros e nenhum tipo de imperfeição, sabe? Essa era Denise, pode-se dizer, sua mãe. Pietro, o pai de Cê, adora a mulher, embora estejam separados. Celina é a única menina do colégio que mora com o pai, o que vem a se tornar uma frustração, embora não considere tão agradável a presença da mãe. Denise é do tipo que se produz toda para ir ao mercado -se é que vai ao mercado - e vive por aí, a cada dia com um novo namorado. Sempre um rapagão, musculoso... Mas nunca dura uma relação! E não faltam reclamações pra baixar o astral da Cê. Como é uma mãe vaidosa, prefere cuidar da beleza da filha também.

Enfim, peripécias a parte, convém relembrarmos o acontecimento mais trágico vivido entre o trio A-Bê-Cê, no decorrer da história: a bala perdida que acertou Ana Lúcia, imobilizando suas pernas e, consequentemente, seu sonho.

A adolescente teve que enfrentar vários problemas por aquelas pernas que não eram mais suas. Quer dizer, ela tinha pernas, mas era como se não as tivesse! Seus grandes amigos enviavam-lhe torpedos e ligavam, mas a vergonha e o medo impediam que ela se aproximasse deles ou que procurasse conservar uma amizade verdadeira. Ficava em casa o dia inteiro. Passava os dias trancada no quarto, acariciando Nijinski, seu cachorro. Às vezes passava a ouvir histórias de terror, contadas pela avó. Apesar das dificuldades, um dia teria que aprender a conviver com a realidade... E foi o que aconteceu! Voltou às aulas - com muito medo - e fugiu dos comentários que passaram a existir. Filósofo, um colega seu, foi quem esteve ao seu lado o tempo todo, dando-lhe o apoio necessário, nos momentos mais difíceis. Ana Lúcia sentia-se como Elisabeth - uma personagem de uma história que a avó havia lhe contado -, sentia medo, tinha vergonha! Mas isso não durou muito tempo!Apesar de se sentir muito estranha com aquelas "pernas-cadeira" tinha que aceitar não haver recuperação.

E é assim que acontece na nossa vida:antes de qualquer coisa, devemos tratar de ser felizes, e somente as pernas que existem dentro da gente -as que movem os passos do nosso coração - já completam o serviço. Essas pernas, sim, têm que estar sempre com bastante mobilidade, pois não se sabe o que há por vir. Não se prevê o futuro.

E se o coração as fizer trancar?

(...)

Fabiana Hallmann de Paula e Giovanna Zoppas Pierezan